quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A idéia de Revolução

Adeus ao Marxismo

Quando deixei à Universidade, repleto de esperança eu não queria me distanciar dos teóricos que sempre marcaram minha história e principalmente o modo como eu enxergava a sociedade. Assim, relíamos a dialética de Marx, Gramsci e Lênin não apenas para entender melhor o que eles diziam, mas para entender melhor nossa realidade, para poder transformá-la: partir do particular, do concreto, para ganhar depois a universalidade e generalidade e retornar ao particular, ao singular. Gramsci, quando falava da pequena burguesia, não queria fazer uma teoria da pequena burguesia. Ele falava que a pequena burguesia agira diferentemente na França e na Itália. Diga-se o mesmo de Marx: quando falava da ideologia, falava da ideologia em particular alemã. Falando da dialética, Lênin diz a mesma coisa: quando falava da “formação social” da classe trabalhadora, falava da classe trabalhadora soviética. São teóricos da singularidade porque falam do concreto e por isso, tornaram-se universais.
Assim, não se trata de partir da idéia universal de uma mudança estrutural da sociedade, de um mundo mentalmente diferente e acabado. Trata-se de resgatar a utopia, sim, mas aquela que está no cotidiano das pessoas que gostam de viver, que desejam construir um mundo melhor do que encontraram, mas este mundo que está aí, próximo de nós, não outro mundo. E não se trata de mudar o mundo para as pessoas que virão no futuro, mudar para beneficiar “os meus filhos que nem sei se virão”. Nós precisamos transformar o mundo agora, mesmo que a transformação não seja a sonhada por todos nós. “Ninguém caminha sem aprender a caminhar, sem aprender a fazer o caminho caminhando, refazendo e retocando o sonho pelo qual se pôs a caminhar” repetia Paulo Freire.
Não quero a “revolução pela revolução” que pregava atingir a totalidade das estruturas, as molas de toda a sociedade econômica, política e cultural etc. Quero sim atuar na micropolítica, fazendo a revolução do cotidiano, a revolução de cada dia após o outro, o “socialismo possível” de hoje, agora, para ir, desde já, construindo, no micro, o macro. É uma micropolítica que prepara uma revolução “maior”, uma revolução global que não será a revolução da repetição, mas a revolução criadora do novo que não é possível antever nem planejar.
Vivemos um tempo em que os homens se descobrem vivendo numa aldeia global e, ao mesmo tempo, descobrem que a sua existência faz parte de pequenos grupos. O nosso tempo é também o tempo da descoberta do “micropoder” (Foucault) da singularidade, da necessidade de viver plenamente, da descoberta do valor progressista da alegria, do prazer, da beleza, do corpo.
Che Guevara já nos havia ensinado que precisávamos sentir profundamente para ser revolucionários, que precisamos “ser duros sem jamais perder a ternura”. O revolucionário comandante angolano Agostinho Neto, já nos havia advertido de que “não basta a nossa causa ser justa e pura; é preciso que a pureza e a justiça estejam dentro de nós”. Eles nos haviam ensinado o valor progressista da afetividade, da ética, do amor. Temos parâmetros para nos orientar. Mas teremos mesmo aprendido a lição?
Não basta pensar a “revolução pela revolução”. É preciso desejá-la para que ela aconteça em profundidade, não só na superfície das estruturas político-econômicas.

Um comentário:

Anônimo disse...

Everton, ficou com preguiça de continuar escrevendo?